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Inclusão digital também acontece na Vila Reencontro que conta com acesso à internet gratuita
As primeiras famílias que estavam em situação de rua chegaram à Vila Reencontro, na Avenida Cruzeiro do Sul, Canindé. Além de moradias transitórias e metodologia aplicada para apoiar cada uma delas na reconstrução de autonomia e saída qualificada da atual circunstância, o espaço também conta com uma iniciativa de inclusão digital, acesso gratuito ao wi-fi para os moradores.
A iniciativa inovadora é uma parceria da Prefeitura de São Paulo, por meio das Secretarias de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), Governo (SGM) e Inovação e Tecnologia (SMIT), com serviços oferecidos e gerenciados pela Prodam.
São dois links de 50 mbps para atender a população moradora e para SMADS fazer a gestão do local.
A primeira unidade da Vila Reencontro, voltada às famílias que estão em situação de rua foi inaugurada na manhã deste sábado (24) pelo prefeito Ricardo Nunes. A Vila vai abrigar até 160 pessoas. “Essa é a primeira com moradia por 12 meses, renovável por mais um ano. Vamos inaugurar muitas outras vilas e em 2023, a Prefeitura investirá R$ 550 milhões somente para atender a população em situação de rua”, disse o prefeito.
Para Nunes, os desafios da Cidade são enormes, mas a Vila Reencontro mostra o que a gestão quer fazer a favor da população de rua dando-lhe autonomia e dignidade com qualidade de vida. “Aqui não serão só casas, os moradores terão todo acompanhamento de assistência social, cursos profissionalizantes para que consigam um emprego. Ninguém foi morar na rua porque quis. As pessoas acabaram na rua por destino da vida, porque em algum momento não teve condições de ter um emprego para manter o seu sustento, pagar seu aluguel, sua prestação e poder ter a dignidade para morar”, frisou.
Segundo o prefeito, a assistência social não é só dar cesta básica ou marmita. “Assistência social é ter uma cidade que dê oportunidade para que a pessoa possa, dignamente trabalhar e levar o sustento para sua casa. A Prefeitura possibilitou que, de janeiro a novembro deste ano, 9.820 pessoas que estavam nos serviços sociais municipais arrumassem emprego e saíssem da situação de rua”, completou.
Já o secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Carlos Bezerra Jr. destacou que a inauguração da primeira Vila Reencontro vai ser um marco na cidade. “Podemos considerar esta, uma mudança de patamar no modelo de acolhimento na cidade, voltada para a autonomia. E isso não está somente na forma, que permite que cada família tenha a individualidade preservada e o atendimento humanizado, mas está, também, no objetivo. Nesta primeira vila, estamos inovando na contratação da Organização que vai administrar o serviço. É uma OSC, de origem internacional, que vai aplicar uma tecnologia social desenvolvida por eles para que as famílias ganhem autonomia, que é, com certeza, o que mais desejam”, explicou.
Ao receber as chaves de sua nova residência, a representante dos moradores da Vila, Jenneferly da Silva emocionou a todos no evento com suas declarações: “Nunca a Prefeitura teve um olhar humanizado como agora. A gente chegou numa situação dessa não foi porque quisemos. Estou há seis anos na luta por moradia digna. A Vila é um passo para a nossa dignidade. Só a gente sabe o que passamos. Tenho dois filhos e sempre fomos enviados para um ‘depósito de gente’, sendo apenas um número. Quando mando currículo e a empresa vê que a gente mora num abrigo, nem chamam. Ninguém sabe o sentimento de se abrir uma geladeira, ter um banheiro só seu. Isso é dignidade que agora vamos ter”, disse Janneferly.
A Vila
O terreno com mais de 30 mil m², cedido pela Prefeitura à Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), fica na Avenida Cruzeiro do Sul, Canindé, região central da cidade, onde funcionava a antiga Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC).
Serão instaladas, ao todo, até 270 casas modulares, com capacidade para acolher 1.080 pessoas, sendo que, nesta primeira fase, serão entregues 40 módulos que possuem faces de fechamento em material termoacústico.
O perfil das famílias que estão na Vila Reencontro foi definido através de critérios de elegibilidades específicos e constantes na Portaria 95/2022. São casais com filhos, famílias monoparentais e outras composições familiares com até uma criança. Há ainda outros critérios de priorização estabelecidos, tais como presença de crianças de 0 a seis anos e mulheres com histórico de violência doméstica.
As unidades, que possuem 18m², estão equipadas com banheiros e pias e mobiliadas com camas de casal ou beliches e berços, geladeiras, fogões com duas bocas e guarda-roupas. As áreas comuns são compostas por cozinha, refeitório, lavanderia, playground, banheiros, duas salas administrativas, uma sala para atendimentos sociais, depósito para alimentos e itens consumíveis, bicicletário, estacionamento para carroças, além de uma horta.
Diariamente, serão servidos café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar. A Prefeitura investiu, ao todo, R$ 2,796 milhões na instalação da Vila. A gestão do serviço estará a cargo da Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI).
Expertise internacional
A AVSI é a responsável por toda administração da nova Vila Reencontro. A organização, sem fins lucrativos, é vinculada à Organização Não Governamental (ONG) Fundação AVSI, criada em 1972 e que está presente em mais de 30 países. A AVSI Brasil nasceu em 2007 e possui expertise na temática de desenvolvimento social e um trabalho singular no Brasil nas áreas de proteção, acolhida, promoção de direitos, capacitação laboral e inserção socioprodutiva de refugiados e migrantes venezuelanos.
Somente em 2021, a AVSI Brasil desenvolveu 31 projetos, em 11 estados, com o empenho de 547 colaboradores, beneficiando diretamente 462 mil pessoas.
Os acolhidos na Vila Reencontro serão convidados pela gestora a participarem de uma cogestão do espaço com a formação de coletivos que ficarão responsáveis pela limpeza e organização das áreas comuns. Além da rotina da Vila, a AVSI Brasil irá desenvolver atividades regulares, tais como palestras, oficinas, atividades esportivas, recreação infantil, dança, ioga, música, entre outras. A intenção é ter um calendário diário de atividades diversas, de forma a oferecer um leque de possibilidades para os beneficiários, com adesão voluntária, mas também como parte da trajetória de cada família dentro da Vila, em direção à saída qualificada.
Intervenção artística
A Vila Reencontro Cruzeiro do Sul recebeu um toque especial com os desenhos feitos por um coletivo de grafiteiros composto por 11 homens e uma mulher. O layout colorido, retratado nas laterais das casas modulares e nas paredes de áreas comuns do espaço, reproduz uma leitura iconográfica, ou seja, imagens nas quais a temática ‘reencontro’ é trabalhada inconscientemente.
“Tive o cuidado de conversar com os artistas e pedir para que eles contemplem a cara de todos os povos, em todas as dimensões de população, que estão tendo uma chance de desenvolvimento e resgate da sua dignidade, através de um recomeço com uma casa, afirmou o líder do coletivo Marcelo Zuffo, 51, professor de Arte e História da Arte, e grafiteiro há 20 anos.
Um dos trabalhos de destaque e que chama atenção, logo na entrada da Vila, é um mural tridimensional. O desenho foi feito com técnicas de artes como grafite, areografia, artes plásticas e afrescos e o objetivo é que, mesmo com visões artísticas distintas, elas se complementem.
Trajetória de rua
As paredes da cozinha e refeitório foram pintadas por Luís Eduardo dos Santos, o Ludu, um artista que durante dez anos viveu entre as ruas e abrigo. Hoje, ele é formado em Artes e dá aulas em oficinas de grafite no Projeto Quixote, o mesmo que o tirou das ruas na adolescência.
“Meu trabalho é bem lúdico. Lembrei da história da carroça que eu vivi quando meu padrasto me levava na carroça dele para catar recicláveis e as pessoas ficavam com dó. Em meio a tudo isso, eu ficava olhando os helicópteros, imaginando as cenas com brinquedos que eu ganhava na rua”, disse o artista.
Programa Reencontro
O Programa Reencontro prevê a entrega de unidades que serão destinadas prioritariamente a famílias - com ou sem crianças-, que estejam utilizando as ruas da cidade como moradia há menos de dois anos. Cada família deve permanecer entre 12 e 18 meses nas moradias transitórias das Vilas Reencontro, e participar de capacitações profissionais e outros atendimentos sociais com o objetivo de ganho de autonomia.
Os critérios para elegibilidade para acolhimento nas moradias transitórias são as informações do CadÚnico, as famílias em que as mulheres são as responsáveis, núcleos familiares que possuam crianças e adolescentes em sua composição e que estejam em situação de rua por um período mais recente (de seis meses a 36 meses).
O projeto possui três eixos de atuação: conexão, cuidado e oportunidade. O primeiro visa a estimular a recriação de vínculos preexistentes e o fortalecimento da rede de apoio. O primeiro elemento de conexão entre o poder público e o indivíduo em situação de rua é a abordagem social, sendo, portanto, um instrumento fundamental de vinculação das pessoas à política pública e às demais etapas e eixos do Programa Reencontro.
Já no segundo eixo, serão oferecidas moradias subsidiadas para aqueles que não possuem renda suficiente, nas seguintes modalidades: locação social, que é o aluguel subsidiado conforme renda; a renda mínima ou o auxílio pecuniário para pessoas sem problemas de drogadição; moradia transitória ou as unidades com alta rotatividade para que se busque evitar o processo de cronificação, promovendo rápido resgate da autonomia.
O eixo oportunidade, por fim, consiste na intermediação de mão de obra e emprego, através da capacitação profissional, da alocação em contratos públicos (Decreto nº 59.252/20), da busca ativa por vagas e do estímulo à contratação no setor privado.
Rede Socioassistencial
A Prefeitura de São Paulo possui a maior rede socioassistencial da América Latina que conta, atualmente, com mais de 19 mil vagas de acolhimento para população em situação de rua.
Dentre os serviços, estão 71 Centros de Acolhida para adultos; 10 Centros de Acolhida para Mulheres; 15 Centros de Acolhida para Famílias; 13 Centros de Acolhida para Idosos; 6 Centros de Acolhida para Mulheres em Situação de Violência; 3 Centros de Acolhida Especial para Mulheres Trans; 2 Centros de Acolhida Convalescência; 2 Autonomia em Foco; 1 Centro de Acolhida para Homens preferencialmente Trans; 1 Centro de Acolhida para Catadores; um Centro de Acolhida com Inserção Produtiva; 1 Centro de Acolhida para Mulheres Imigrantes; 1 Centro de Acolhida para Mães, Gestantes e Bebês; 7 Repúblicas para Adultos e 10 Repúblicas para Jovens.